quinta-feira, 20 de agosto de 2009

UMA DIDÁTICA DA INVENÇÃO

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E o poema de hoje é:
Uma Didática da Invenção do “O Livro das Ignorãnças” ed. Civilização Brasileira,

de Manoel de Barros
I

Para apalpar as intimidades do mundo é preciso saber: Que o esplendor da manhã não se abre com faca O modo como as violetas preparam o dia para morrer Por que é que as borboletas de tarjas vermelhas têm devoção por túmulos

Se o homem que toca de tarde sua existência num fagote, tem salvação

Que um rio que flui entre

2 jacintos carrega mais ternura que um rio que flui entre 2 lagartos

Como pegar na voz de um peixe Qual o lado da noite que umedece primeiro.Etc.etc.etc.

Desaprender 8 horas por dia ensina os princípios.
II

No Tratado das Grandezas do Ínfimo estava escrito: Poesia é quando a tarde está competente para Dálias. É quando ao lado de um pardal o dia dorme antes.

Quando o homem faz sua primeira lagartixa

É quando um trevo assume a noite E um sapo engole as auroras
III

Para entrar em estado de árvore é preciso partir de um torpor animal de lagarto às 3 horas da tarde, no mês de agosto. Em 2 anos a inércia e o mato vão crescerem nossa boca.

Sofreremos alguma decomposição lírica até o mato sair na voz.
Hoje eu desenho o cheiro das árvores.
IV

O rio que fazia uma volta atrás de nossa casa era a imagem de um vidro mole que fazia uma volta atrás de casa.

Passou um homem depois e disse: Essa volta que o rio faz por trás de sua casa se chama enseada. Não era mais a imagem de uma cobra de vidro que fazia uma volta atrás de casa. Era uma enseada. Acho que o nome empobreceu a imagem.